Não me refiro apenas ao coração aberto para viver uma relação afetiva, enamorar-se, apaixonar-se, mas falo, também, de uma forma mais ampla. Falo do escudo que nos protege de tudo aquilo que no fundo queremos ser e viver. Falo do escudo que nos dá a sensação de uma vida tranquila e segura e da qual temos total controle, mas que não nos permite ousar.
Falo do escudo que não nos deixa entrarmos em contato com aquilo que mais tememos em nós, pois achamos que evoluímos, passamos para outro patamar, e certos sentimentos não mais nos pertencem. Falo de um escudo que nos impede de vivermos as experiências da vida e com elas podermos nos conhecer melhor, mesmo não gostando das partes sombrias e mesquinhas que julgamos não ter mais, enquanto sustentamos em nossa frente o poderoso escudo de proteção.
Proteção de quê? – eu me pergunto. Proteção das ilusões que criamos de nós mesmos? Proteção da nossa tranquilidade e por consequência da nossa passividade e acomodação? Proteção de nosso ego exprimido, arrogante e frágil?
Pois na vida, verdadeiro guerreiro é aquele que corre nu pela floresta sombria. Verdadeiro guerreiro é aquele que sente em suas mãos apenas a carícia do vento. Verdadeiro guerreiro é aquele que conhece o inimigo quando este realmente se apresenta desafiando-o. Verdadeiro guerreiro é aquele que sabe que cada desafio é uma oportunidade de aprimoramento e crescimento. Verdadeiro guerreiro é aquele que almejamos ser, julgamos ser, mas na verdade quase nunca somos; pois o verdadeiro guerreiro vai à luta, se expande, se permite, se entrega e não fica apenas sentado em um trono.
Queremos realmente comungar com a vida? Queremos realmente nos conhecer? Então precisamos estar cientes de que também iremos conhecer nossas partes desagradáveis, inseguras, e medíocres. Porém só assim nos veremos inteiros! Para isto sugiro que penduremos o nosso “poderoso” escudo em nossa parede – com certeza ele servirá de uma bela decoração – e saiamos porta afora, rumo à vida, rumo ao desconhecido, de peito aberto, sem armas nas mãos, apenas com a coragem no coração, e quem sabe, entoando uma bela canção.
Anna de Leão. (Favor mencionar fonte e autoria ao reproduzir este artigo).